De leite do bebé
Como todos devem imaginar, falo com muitos pais diariamente. Assim, tenho o retorno de muito do que se passou durante este período de confinamento nas diferentes famílias que tenho o privilégio de acompanhar. Talvez não sejam representativas da nossa população, mas verifiquei muitos pontos em comum, que julgo não serem coincidências.
Nunca as crianças “pensaram” passar uns meses tão felizes – pai e mãe (ainda que alguns a trabalhar remotamente) a acompanhá-los em permanência, em regime de 24/7. O sonho tornado realidade! Aquilo para que eles estão programados, o que está “escrito nos seus genes” feito em cada dia, todos os dias…
Por isso estiveram felizes, muito felizes, a usar e abusar da paciência dos pais, que se viram obrigados a inventar brincadeiras e entreténs, quantas vezes para mais do que um filho, com idades diferentes e por isso interesses e necessidades diferentes. Mas curiosamente não ouvi queixas. Confissões de algum cansaço, sim, mas muita vontade de continuar com eles em casa. Tanto mais que otites, bronquiolites, ranhos perenes, tosses infindáveis desapareceram como por magia.
Muito interessante também foi a constatação que as mães e os pais fizeram dos saltos de desenvolvimento destas crianças confinadas. Quantas vezes oiço dizer: vamos enviar para o infantário por causa do desenvolvimento. Mas agora confessam, com justificado orgulho, que enquanto estiveram em casa a “fala está muito mais desenvolvida”, as “gracinhas são tantas e tão divertidas”, “anda e corre pela casa com grande desenvoltura”, “ajuda nas atividades caseiras com prazer”. Dos “amigos” da escola quase não falam e a maior parte recusa aderir às atividades que as educadoras sugerem pelo teams/zoom/etc, ou sequer interagir por essa via.
Mas agora as creches vão abrir e a preocupação é grande. Tantos são os telefonemas: como fazemos? Será seguro voltar? Ainda ontem a esse propósito o presidente da OMS, Tedros Gebrayesus dizia que a abertura das escolas (em sentido genérico presumivelmente) deve ser pensada cuidadosamente, até porque não se sabe tudo acerca da contagiosidade e manifestações da doença nas crianças.
Também em relação às medidas que vão ser implementadas pelos infantários e de que saíram hoje as orientações da DGS pergunto-me como será possível serem colocadas em prática na maior parte dos infantários? E mais grave, ao serem implementadas que consequências terão para a saúde mental destas crianças: faces mascaradas, afastamentos impostos. São crianças dos 4 meses aos 3 anos, para quem o contato, o afeto, o toque são fundamentais. Ainda ontem uma das crianças que eu sigo e que acabou de fazer os 3 anos confidenciou à mãe: “Gosto muito da Dr.ª Graça, mas ontem ela estava muito feia, com aquela máscara!”. E não há criança de colo cuja mãe tenha a máscara posta, que a criança não tente denodadamente removê-la.
Quem fala comigo já há muito que sabe o modo como eu defendo que as crianças não devem ir para o infantário até aos 3 anos (pelo menos). É com a família que eles devem permanecer. Teríamos agora uma oportunidade de ouro para repensar o modo como a sociedade vê e acolhe a criança, no entanto, a opção foi por serem os primeiros “sacrificados”. É triste e preocupante, é ainda e sempre a economia a prevalecer, é o não saber pensar no futuro da nossa sociedade.
Como é de todos sabido a nova realidade epidemiológica relacionada com a doença COVID-19 está a colocar novos e grandes desafios.
Apesar do pouco que se sabe acerca deste vírus, em amostras de leite materno analisadas não foram isolados vírus. Para além das sobejamente conhecidas vantagens da amamentação, é também sabido que os anticorpos específicos dos vírus que infetam a mãe passam através do leite materno, começando a assegurar defesas às crianças amamentadas, mesmo antes das manifestações da doença aparecerem.
Assim sendo é fortemente recomendado que as mães continuem a amamentar mesmo em caso de infeção por este vírus. A principal fonte de contágio são as secreções nasais e bucais, pelo que deve ser assegurada uma boa lavagem ou desinfeção das mãos e colocação de máscara ou lenço que proteja nariz e boca, impedindo a emissão de gotículas infetadas para a criança.
Se a mãe tiver que ser afastada da criança por apresentar um estado de saúde mais agravado, deve ser auxiliada a fazer a extração do leite, que será oferecido à criança por outro cuidador, através de um copo ou uma colher.
Amamentar é proteger.
WHO Infection prevention and control during health care when novel coronavirus (nCoV) infection is suspected. - Pontos 12 e 13, March 13, 2020
UNICEF Coronavirus disease (COVID-19): What parents should know March 1, 2020
ABM STATEMENT ON CORONAVIRUS 2019 (COVID-19) March 10, 2020
CDC. Interim Guidance on Breastfeeding for a Mother Confirmed or Under Investigation For COVID-19. February 25, 2020
Photo: Mel Lawler
É certo que todos precisamos de ar, água e comida para sobreviver, mas também é verdade que não conseguiríamos fazê-lo sem dormir! O sono (ou a falta dele!) tem um enorme impacto no modo como funcionam muitos dos nossos órgãos e sistemas, nomeadamente o coração e o cérebro, tendo uma função restauradora [re]conhecida e importante.
Todos precisamos de dormir, sendo que isso é particularmente importante para os bebés e crianças, pois afeta o seu desenvolvimento físico e mental. Existem já diversos estudos que demonstram a importância do sono para os processos de aprendizagem, de memória e até para a motricidade, portanto, o sono deverá tornar-se numa prioridade, sendo considerada uma questão de saúde e devendo sempre (a meu ver) ser abordado de um ponto de vista holístico!
Pessoalmente, acredito que quando falamos sobre o sono das crianças - sobretudo se falarmos sobre os primeiros meses após o nascimento, grande parte das questões que se colocam são enviesadas, por um lado, devido a crenças, expectativas e influências culturais (algumas muito desfasadas da realidade!), e por outro, porque há ainda muito pouco conhecimento sobre o que REALMENTE é o sono infantil, seja em relação às suas características, seja relativamente às necessidades específicas dos mais pequenos.
Parece-me importante começar por propor uma mudança de perspectiva!
Não sei exatamente de onde é que terá surgido a idéia de que “dormir como um bebé” era dormir sozinho e durante longos períodos de tempo… mas sei que nos veio tramar à grande! Aos bebés, porque pura e simplesmente não têm como o fazer e aos pais porque acabam por ser colocados sob tanta pressão social, que acabam por sentir que, façam o que fizerem, nunca estarão bem – ora com a sua consciência, ora com a sociedade que insiste sempre em opinar sobre as suas opções (sejam elas quais forem)!
Então, talvez devamos começar por clarificar sobre o que realmente estamos a falar quando nos referimos ao sono infantil…
Mas, vamos começar esta história ao contrário!
Comecemos, pois, pelo sono dos ADULTOS!
Antes de mais, é importante referir que o sono dos adultos é regido por ritmos circadianos, que são mudanças fisiológicas que seguem o ciclo das 24 horas, sendo que muitas dessas mudanças são influenciadas pela exposição à luz e à escuridão.
Os ciclos de sono dos adultos duram aproximadamente 90/110 minutos. O primeiro estágio do ciclo do sono é um período de transição durante o qual o corpo e o cérebro passam de um estado de vigília para o sono. Esse período é relativamente curto, durando apenas alguns minutos (o tempo que demoramos a “adormecer”) e o sono é bastante leve, quer isto dizer que tenderemos a acordar com mais facilidade durante este estágio do sono. Aqui, o nosso corpo começa a desacelerar os seus ritmos. Os batimentos cardíacos e respiratórios diminuem e os olhos começam a relaxar. Os músculos também relaxam, mas ocasionalmente podem contrair-se (quem nunca?). Passado esse 1º estágio, nós - os adultos, atingimos o segundo estágio do sono não REM, sendo este também caracterizado por sono leve, mas em que o corpo começa já a fazer a transição para um sono mais profundo. No corpo, os batimentos cardíacos e respiratórios diminuem ainda mais, os músculos relaxam ainda mais, os movimentos dos olhos param e a temperatura do corpo diminui. O sono profundo, sono por ondas lentas – as ondas delta, é o terceiro estágio do sono não REM. Embora naturalmente o corpo complete alguns ciclos durante a noite, é sabido que o terceiro estágio ocorre em períodos mais longos durante a primeira parte da noite. No corpo, os batimentos cardíacos e respiratórios são mais baixos durante essa fase do ciclo do sono. Os músculos e os olhos também estão muito relaxados e as ondas cerebrais tornam-se ainda mais lentas, fazendo com que possa ser muito difícil acordar alguém. É normalmente durante este estágio que ocorrem distúrbios do sono, como por exemplo o sonambulismo. Cerca de 70-90 minutos após adormecer, os adultos atingem a fase de sono REM (Rapid Eye Movement ou sono paradoxal). Durante esta fase do sono, os olhos movimentam-se (às vezes freneticamente!) por detrás das pálpebras fechadas. No sono REM, as ondas cerebrais começam a assemelhar-se às ondas cerebrais do estado de vigília e os batimentos cardíacos e a respiração aceleram novamente. É durante o sono REM que ocorrem a maioria dos sonhos. O cérebro dá ordem para “paralisar” temporariamente os braços e as pernas para impedir que o corpo atue nesses sonhos e, assim, ficamos em atonia muscular.
No final deste ciclo do sono e, se não houver nenhum desconforto ou inquietação, voltamos a entrar no estágio 1 novamente e por aí a fora... Os despertares parciais (despertares breves) são comuns aquando da transição entre os ciclos do sono, mas podem ocorrer despertares mais significativos a cada 2/3 ciclos. Com alguma sorte, voltaremos novamente a adormecer sem que disso tenhamos sequer registo ou, na pior das hipóteses, afofamos a almofada e viramo-nos para o outro lado. Se estivermos desconfortáveis, com frio, fome, sede ou… nos sentirmos inseguros, é muito provável que despertemos MESMO e acabemos até por ter que nos levantar e ir resolver aquilo que nos está a molestar. Será isto assim tão estranho para um adulto? E para um bebé?!?
Reconheceram-se? O.K. Então agora, façamos como os Monty Phyton… “and now for something completely different!” esqueçam tudo o que vos disse porque vamos falar do sono dos mais pequenos!
Importa saber que os bebés começam a ter ciclos do sono cerca das 28/30 semanas de gestação e por volta das 36/38 semanas os bebés até já têm ciclos de sono bastante regulares.
Quando os bebés nascem, os ritmos circadianos ainda se estão a desenvolver e a “confusão” entre sono diurno e noturno é absolutamente normal, sendo que os nossos avós até diziam que “os bebés são da noite!”. Isto acontece, não só porque a mãe natureza é sábia e era quando nós, mães, parávamos (normalmente à noite) que os nossos bebés ficavam mais activos, mas também porque os seus pequenos estômagos precisam de ser alimentados com frequência!
Diz-se que são necessários cerca de 3 a 4 meses para que os bebés desenvolvam ritmos circadianos maduros. Porém, pesquisas já confirmaram que o tempo necessário pode variar e que até há bebés que conseguem “sincronizar-se” mais cedo, se lhes formos fornecendo as dicas ambientais adequadas. Sabemos agora o enorme impacto que a luz tem no "relógio biológico" dos nossos pequeninos e que a sua exposição a ela pode e deve ser usada de forma sensível e consciente.
É também de referir que os ciclos de sono dos recém-nascidos são mais curtos - cerca de 40/45 a 55/60 minutos (em média) e os bebés geralmente começam logo os seus períodos de sono no equivalente recém-nascido ao REM - aqui chamado de "sono ativo". Alguns estudos mostram que não é incomum que os recém-nascidos gastem mais da metade do seu tempo total de sono em sono ativo (Grigg-Damberger 2016) chegando mesmo aos 75% (Poblano et al 2007; Sadeh et al 1996). Ora, não sobra muito tempo para o sono profundo, pois não?!?
E querem saber porquê? Porque a mãe natureza é sábia! Ah, espera, eu já disse isto…
O sono activo, (o tal equiparado ao sono REM) parece ser mais importante do que se pensava para o desenvolvimento do cérebro dos bebés (Siegel 2005), sendo nesta fase que se "organizam" as suas vivências e em que o cérebro aproveita para testar as suas ligações, nomeadamente aos nervos com ligações músculo-esqueléticas.
Durante o sono ativo, ao contrário dos adultos durante o REM, os bebés pequenos geralmente não apresentam atonia muscular. Como eles se mexem, contraindo e esticando braços e pernas, vocalizando, rindo e, é claro, também… chorando, é frequente os pais serem “enganados” ou seja, levados a crer que os seus bebés estão a acordar, quando na verdade estão “apenas” a SONHAR! Isso pode fazer com que os pais interajam para acalmar o seu bebé no momento… ops!... errado E, aqui sim, existe uma semelhança pois, os bebés pequenos também têm maior probabilidade de acordar durante o sono REM ou imediatamente a seguir, tal como nós adultos fazemos (Akerstedt et al 2002) e também durante as transições entre os ciclos do sono! Ou seja, qual é a probabilidade do nosso bebé acordar? Pois, é alta, é…
Ah, mas os bebés pequeninos também experimentam algo mais ou menos análogo ao nosso sono profundo, o chamado "sono tranquilo". O sono tranquilo é caracterizado por uma respiração mais lenta e rítmica (Grigg-Damberger 2016). Nesta fase torna-se mais difícil para o bebé despertar, o que nos faria dar pulinhos (silenciosos!) de contentamento! Mas a verdade é que também pode ser problemático se, por exemplo, o bebé tiver uma flutuação nos seus níveis de oxigénio. Pensa-se, então, que isto faz parte de um mecanismo de proteção contra a Síndrome de Morte Súbita do Lactente (SMSL ou SIDS) e, portanto, nos primeiros meses, o ciclo típico de sono de 45 a 60 minutos inclui apenas cerca de 20 minutos de sono dito "profundo". O resto do tempo, os bebés estão em "sono activo" ou em "sono de transição". Já vos disse que a mãe natur… sim? isso!
Resta dizer que a duração total de sono diário varia bastante, é claro, no entanto sabe-se que cerca de metade dos bebés entre os 0 e os 3 meses dormem entre 13 e 16 horas em cada 24 horas, em sonos (mais ou menos) curtinhos e espalhados ao longo do dia.
Gradualmente, à medida que os meses vão passando, o sono vai-se tornando mais “organizado” e mais nocturno, o que não significa que os bebés durmam a noite toda, que é como quem diz dormir 5 horas seguidas! Foi feito um estudo com crianças americanas, em que mais de 15% dos pais relataram que seus bebés de 12 meses ainda não haviam atingido esse marco (Henderson et al 2010). É, pois, normal que bebés desta idade ainda acordem 3-4 vezes a cada noite. Ou até mais! Porque cada bebé é um bebé.
Mas, por agora, voltemos atrás, aos primeiros meses após o nascimento! Para referir quão desafiadores e exigentes podem ser para os novos pais, especialmente para as novas mães, porque, como já foi referido, a MÃE NATUREZA faz com que os nossos bebés acordem frequentemente, não apenas para se alimentarem, mas também por causa de seus ciclos mais curtos e características de sono mais leves. Então, é um fato: os bebés acordam com frequência. Mas tudo ao redor destes novos pais parece "gritar" que os bebés devem dormir no berço por longas horas sem acordar, sem ser para serem alimentados ou para trocar a fralda. O que mais eles poderiam precisar??? Hoje sabemos que as necessidades dos bebés vão muito além de uma barriguinha cheia e um rabo limpo... que às vezes eles acordam "apenas" porque precisam de contato físico, para saberem que estão seguros! E que quanto mais seguros se sentirem, mais facilmente voltarão a adormecer. E que, muitas vezes, os bebés não acordam para mamar… mamam é para adormecer! Sabiam que entre os vários componentes maravilhosos e surpreendentes do leite materno, está o triptofano, um aminoácido usado pelo organismo para ajudar a fabricar melatonina? Os níveis de triptofano no leite materno aumentam e diminuem de acordo com os ritmos circadianos da mãe, e quando os bebés consomem triptofano antes de dormir, adormecem mais rapidamente (Steinberg et al 1992). Não é lindo? Melhor é impossível!
Mas, e porque é que o meu bebé acorda sempre que o pouso no berço?
Ah, essa é fácil! Toda a gente sabe que os berços têm picos!
Vá, picos, picos, não têm… mas é como se tivessem.
Os bebés precisam de se sentir seguros para poderem relaxar e enfim, dormir e, muitos deles, para se sentirem seguros, precisam do nosso toque, do nosso cheiro, de sentirem a nossa respiração e o nosso coração a bater pertinho do deles... Tal como tinham durante as cerca de 40 semanas que estiveram no forninho. E, já do lado de fora, tal como o temos feito ao longo de uns bons milhões de anos! Na verdade, esta necessidade de contacto físico é mais intensa nuns bebés do que noutros. E eu sei-o bem, porque tenho 2 crias com 2 registos tão distintos cá por casa! Aos bebés que dormem descansados no seu bercinho não os vamos obrigar a dormir ao colo, pois não? Então e aos que não estão [ainda!] preparados para dormir sozinhos e querem é o nosso colo? Vamos obriga-los a ficar no berço??? Bom, claro que cada progenitor será soberano sobre as suas decisões parentais e não sou eu que vou obrigar ninguém a fazer ou deixar de fazer o que quer que seja… Cabe-me apenas informar e desmistificar.
Na verdade, o sono só será um problema se fizermos dele um problema…
Lembro-me de há tempos, enquanto estudava, ler uma frase que me pareceu bastante interessante. Fica um bocadinho "lost in translation" 😅, mas aqui vai: Sabias que quase toda a pesquisa que existe sobre o sono vem de países Ocidentais (Western), Educados (Educated), industrializados (Industrialised), Ricos (Rich) e Democráticos (Democratic) (ou seja W.E.I.R.D. que significa estranho ou esquisito)?
A verdade é que a pesquisa do sono é fortemente centrada no Ocidente e também na população caucasiana, como se apenas "nós" estivéssemos a fazer o que é certo e todo o resto do mundo andasse a disparatar, fazendo o errado. Pensando nisso, não vos parece um bocadinho estranho?
Estamos actualmente a braços com questões (crenças!) muitas delas fruto da forma como nós próprios fomos educados. Por um lado, endeusou-se o “bebé independente”, quando já sabemos tão bem que (ainda!) não o conseguem ser e, por outro lado, diabolizou-se a cama compartilhada, quando na verdade foi esta a norma biológica desde tempo imemoriais e ainda o é, em muitas partes do mundo!
Somos sempre livres de escolher a opção que mais nos convém, é claro! Mas, se por acaso até nos calhou um bebé que precisa - como é normal e fisiológico - de mais contacto físico, é bem provável que não cheguemos a dormir grande coisa, se insistirmos em que durma no seu berço…
E, dependendo do bebé que tenhamos, podem até criar-se associações menos positivas relativamente ao sono.
É que o chip que vem instalado de série no nosso bebé e que fez com que tivéssemos sobrevivido até hoje enquanto espécie, faz com que ele procure a segurança dos [a]braços de um cuidador de referência, pois só assim (a tal da boa e velha mãe natureza!) garante que terá os cuidados necessários. E não adianta explicar-lhe que está no séc. XXI numa caminha fofinha e segura em Portugal, país à beira mar plantado. O chip de série é tramado e não vai nisso!
Então, o que fazer? Para mim a resposta em bastante simples: Dormir! Como funcionar melhor para cada família, desde que em segurança. Dormir! Porque é coisa boa e tão necessária para miúdos e graúdos!
Se insistirmos em “lutar” com um bebé, haverá a forte probabilidade de ele ganhar. Chama-se vencer pelo cansaço e, em muitos casos, foi o que os nossos pais fizeram connosco, deixando-nos a chorar “para abrir os pulmões” e para que fossemos mais…“independentes” (olha que bem que isso funcionou - #SóQueNão!).
Quando um bebé não se sente seguro, há maior probabilidade de lhe custar a adormecer ou de vir a acordar mais frequentemente. Adivinhem lá: tal como acontece connosco – os adultos, certo?
Esses despertares vão criando as tais associações menos boas ao sono (do tipo “mas porque é que a minha mãe desaparece sempre que eu fecho os olhos?”) e essas disrupções que se criam, vão fazendo com que os bebés estejam cada vez mais exaustos. E os seus pais também!
Quanto mais cansado fica o bebé, mais difícil é adormecê-lo e mais difícil é mantê-lo a dormir. Ah! Aí vamos nós, em modo "pescadinha de rabo na boca"!
Sei que parece um contra-senso, mas a grande maioria dos bebés que me chegam à consulta estão em total deficit de sono e já lhes é muito difícil conseguirem “desligar” e muito menos sem ajuda. O que o mito da auto-regulação nos veio trazer… Pobres bebés, que (ainda!) não têm como o fazê-lo!
Quanto menos dormem e mais frequentemente acordam os nossos bebés, mais cansadas ficamos nós, as suas mães! O cansaço extremo faz com que estejamos cada vez menos disponíveis, o que é absolutamente natural. Mas também é natural que, ao sentir uma mãe mais cansada e emocionalmente mais frágil, o bebé fique mais alerta e reactivo ou não estivéssemos nós em “fusão emocional” (Laura Gutman in “A Maternidade e o encontro com a própria sombra”). Tem vindo a ser estudado o impacto do bem-estar emocional das mães e, enfim, das famílias, no que toca ao sono dos nossos pequeninos…
Oh, Marta, então estás a dizer que não se pode fazer nada???
Claro que não!
Estou só a dizer que para agir sobre, é necessário entender o sono dos bebés e, como tal, precisamos de o abordar de forma holística e integrada, entendendo-o sob os diferentes pontos de vista: o neurológico (a maneira como o sono se organiza), o biológico (como o sono funciona) e o comportamental (os “rituais” e aquilo que os pais podem dizer e fazer).
Se não o fizermos desta forma, bem podemos usar mézinhas, óleos e rezas, que provavelmente não irão funcionar...
Quando os bebés atingem um estado de desenvolvimento neurológico que já lhes permite dormir por períodos mais longos, quando estamos em sintonia com os ritmos circadianos, quando existe entendimento sobre a produção hormonal, tirando partido dos momentos de aumento de melatonina no organismo, quando criamos associações positivas (comportamentais) e removemos as associações negativas (se as houver)... Respeitando os sinais de cansaço e tirando partido também das “janelas”, tentando que o bebé não fique demasiado cansado e trabalhando com as “fundações” (do sono), é quando teremos tudo em sintonia para que o sono ideal aconteça!
É neste processo que vos posso ajudar! Com o entendimento de que pode não acontecer com a rapidez de um “treino de sono”, que poderá levar algum tempo – o necessário, mas que é certo que chegaremos lá! Com respeito, gentileza e empatia. E sem choros desnecessários…
Tendo tudo isto em conta, acredito que se torna mais fácil agir (ao contrário de reagir!), abraçando a situação que estamos a viver, em vez de combatê-la. Assim, podendo passar por isto de maneira mais fluída e suave para nós, pais e para os nossos bebés. Construindo uma boa relação com o sono que, espera-se, possa durar uma vida, para que todos possam descansar mais e melhor!
Agora, talvez a expressão “dormir como um bebé”, já vá ser encarada com outros olhos…
Vou começar pelo princípio... Bem, não propriamente o princípio, mas o dia zero da Clarisse (há exactamente 1 ano atrás).
Confesso que foi diferente relativamente aos outros partos. Os meus partos são fáceis, fáceis no aspecto que são rápidos e consigo gerir a dor sem recorrer a anestesia (só depois de 3 partos soube que fazia hypnobirthing instintivamente) pelo que tudo sempre correu sobre rodas... Agora neste houve uma diferença... Eu estava informada, não só informada, mas convicta, empoderada! (Nem sempre a informação chega... A ansiedade, a dúvida costumam mandar a informação pelo ralo abaixo).
Então fiz tudo a que eu e a Clarisse tínhamos direito, sabem os planos de parto? não fiz mas se tivesse feito era assim, parto muito respeitado sem interferências, e mal nasce a Clarisse veio para cima de mim... E ali ficou! Passado uns largos minutos cortaram o cordão e ela manteve-se colada a mim. Quando se sentiu preparada foi à mama e alí ficou umas 2h.
No hospital há sempre aqueles pormenores da vit K e da pesagem e etc... Vit K foi dada em pele com pele. Pesagem... há pressa? Perguntava eu já sabendo a resposta... Haver não há mas queriam registar o parto e sem esse valor não o conseguiam... Não quero saber, o registo que espere. E ali estivemos no namoro... Conseguia escrever de modo mais científico falando da importância deste momento para a relação, vinculo, amamentação, das hormonas envolvidas, etc... Mas não... É mágico, eu estava pura emoção, olhava para ela e caiam-me lágrimas, e essa sensação ainda hoje se mantém.
Eu amo incondicionalmente todos os meus filhos, mas dos outros fui sempre atropelada pela cultura, "tem de dar banho mal nasce" "tem de vestir a primeira roupinha" "tem de ficar no berço" tem, tem, tem... Isso acaba por atordoar emoções e cria ansiedades, porque foge da norma! Nós somos mamíferos!! Precisamos do contacto pele a pele! E não é daquela coisa contada em minutos, "check! Já fez contacto pele a pele!" É um contínuo... É o inclusive vestir a roupa quando mãe e bebé se sentirem preparados e mal queiram voltar ao contacto, e ficarem assim, juntos até o bebé e a mãe se sentirem preparados (o que pode durar uns meses).
Esta maneira, que há quem diga que é moderna mas eu digo, mais primitiva de se estar traz ao de cima não só as emoções já faladas mas uma sintonia mãe bebé brutal, uma comunicação não verbal difícil de se alcançar quando tudo envolve regras e consequentemente distância. Vistam-se com o vosso bebé! O parto não é o fim da gravidez! Acreditem que faz diferença!
#Parto #Hypnobirthing #PeleComPele #Amamentação #Imprint #Gravidez #Exterogestação
Cólicas..., as tão famosas cólicas dos primeiros três meses. Ou serão dos primeiros seis meses? Há cólicas que demoram a passar... e apesar das inúmeras medicações elas insistem em persistir. Aos pais só resta ter fé e esperar que no próximo mês já esteja melhor.
No entanto existem culturas onde este termo nem existe, simplesmente porque os bebés não “sofrem” de cólicas.
A definição de cólicas na nossa cultura é “choro não explicado por outra razão durante mais de três horas por dia, mais de três dias por semana, mais de 3 semanas”. Para qualquer mãe ou pai que já tenha experienciado esta força da natureza, é um choro e um desespero, que dá cabo dos nervos de qualquer um! É verdade que o choro dos bebés está “feito” para mexer connosco, para nos fazer agir, sobretudo a nós mães.
Numa sociedade centrada nos adultos a indicação óbvia é medicar e resolver o problema, com tudo e um par de botas, e esperar que passe rapidamente, sem se ter bem a certeza do que está realmente a acontecer àquele bebé. Então porquê chamar cólicas a algo do qual não sabemos a origem? O que nos faz pensar que seja algo do foro gastrointestinal?
No fundo as tão faladas cólicas são um “saco” onde as pessoas põem todos os desconfortos e choros do bebé.
E porque se associa ao aparelho gastrointestinal? Porque quando o bebé está desconfortável, estica-se, faz força, endurece a barriga e claro, lá vêm os gases. Não nego que possa em alguns casos existir desconforto abdominal, por produção de gases exagerada. O que quero dizer é que não me parece justo para o bebé associar, exclusivamente o seu choro aos gases, quando podem ser tantas outras coisas.
Já pensaram, por exemplo que o bebé possa sentir mal-estar ou dores por ter estado muito tempo encaixado no útero nalguma posição incómoda, ou por estiramentos ou compressões durante o parto? E aquele choro do final do dia, na hora da bruxa, quase com hora marcada, que tantos bebés apresentam? Gases com relógio? Hmmmm, não me parece... Uma explicação que convence muito mais é a do intenso cansaço que o bebé sente com o passar das horas, com todo o bombardeamento de sensações e emoções, boas espera-se, mas ainda assim cansativas. Um cérebro de um bebé faz nos primeiros 3 meses de vida 400 novas conexões cerebrais por segundo! A este ritmo alucinante não admira que esteja cansado ao final do dia e que só lhe apeteça chorar...
E quase todas as suas "cólicas" se podem gerir tendo a noção que os bebés, quando têm algum desconforto, apenas querem regressar para o local onde estiveram há tão pouco tempo confortáveis e protegidos, a barriga das mães. Querem cheirar a mãe, querem ouvir a mãe, querem sentir a mãe, querem ser embalados como eram enquanto estavam no ambiente uterino. E quem diz a mãe também diz o pai, uma figura que passou a estar muito mais presente após o nascimento do bebé, mas que já antes se anunciava fazendo ouvir a sua voz.
Proponho uma mudança de termo! Que tal em vez de o bebé tem cólicas passar a dizer o bebé está com os azeites? Ou o bebé está virado do avesso? :-D
Então que posso fazer às "cólicas" do meu bebé?
Pelo colo, pela sucção e o shhhhh shhhhh (provável imitação do som que ouviu no útero) é possível tranquilizar muitos bebés (escrevo eu isto enquanto tenho a minha filha de 3 meses ao colo a mamar, não por fome mas porque a acalma). Sim, porque já sabemos todos que colo e mama a mais não vicia, certo?
Mas de vez em quando nem isso chega...
Então, em vez de medicações, vamos simular o ambiente intra-uterino pondo o bebé no pano (babywearing rocks!), para quem não conhece, pesquisem EXTEROGESTAÇÃO. E se nem isso funcionar, que tal levá-lo a passear à rua no pano?
E acalmarmo-nos! Se calhar esta é a parte mais difícil, especialmente se for o primeiro filho. Mas a nossa ansiedade apenas serve para perpetuar o choro e o desespero do bebé. Lembrem-se, os bebés são uma esponja! e absorvem o nosso estado emocional.
Com estas dicas conseguimos tranquilizar e tirar o desconforto da grande maioria dos bebés. E…quando nada disto funciona o que costumo recomendar? Marcar consulta de HAPPYbaby com a Marta, a nossa fada dos bebés!
Vamos mudar este termo?? Gostava de saber a vossa proposta!
Vamos olhar para as necessidades básicas do bebé??
#ComOsAzeites
#ViradoDoAvesso
#HoraDaBruxa
#BebéFeliz
#FamíliaFeliz
#Exterogestação
#Babywearing
#ChorodoBebé
É bem verdade que qualquer mãe é uma heroína. Viver numa sociedade sem modelos, ou com modelos que não se coadunam com os nossos sentimentos, fazerem-nos sentir culpadas quando os nossos filhos não encaixam nos padrões, seja porque não dormem 18 horas em cada dia, ou porque mamam a toda a hora ou porque querem andar sempre ao colo, acarreta uma carga de insegurança e infelicidade difíceis de aguentar.
Por isso eu venho falar um pouco da história de algumas, das muitas heroínas com que me tenho cruzado ao longo dos últimos anos.
S. mãe pela primeira vez, mal “aconselhada” na maternidade onde lhe introduziram mamilos de silicone e leite artificial (o clássico!) e que tendo uma profissão liberal começou a trabalhar quando o bebé tinha menos de 1 mês. A agravar a situação o apoio em casa fazia-se com sugestões de oferta de biberões de leite artificial “porque ia ser mais fácil para todos”. Mas a S. não desistiu e procurou auxílio. Após correção do problema de base na amamentação decidiu que para conseguir ir em frente precisava de tirar algum tempo só para o filho e suspender o trabalho, e inteligentemente “obriga” o marido a andar com ela em todas as atividades que faz com o bebé. Parece já o ter convertido ao leite materno!
P. mãe de gémeas nascidas há pouco mais de 1 mês, já era heroína antes deste nascimento. Enfrentou tantas dificuldades com o filho mais velho, tanto a nível de amamentação, como de noites mal dormidas, que só isso já a fazia uma Mulher de exceção. Mas agora, com mais duas belezas em horários desencontrados, a querer a mama a toda a hora, a não sossegar se não estiverem ao colo dela, com os enormes sentimentos de culpa porque não consegue dar a mesma atenção ao primeiro filho, com milhentos problemas caseiros daqueles que não são graves, mas que desmoralizam qualquer um, aqui continua ela, linda e com um sorriso permanente nos lábios. Ela tem o apoio do marido e da família, mas a opinião dos colegas (pediatras de profissão) é que é impossível amamentar gémeos! E no entanto elas crescem…
A mãe T. marcou-me profundamente. Pediatra também, apercebeu-se que com um mês o filho não estava a ganhar peso e que a quantidade de leite que estava a produzir já era pequena por falta de estimulação do bebé. Penso que foi o pânico, a frustração e até a culpa, em que nós mulheres somos exímias. Durante a consulta teremos falado que nem sempre a reversão da situação de ter pouco leite é possível, porque alguns ácinos ficam perdidos para sempre. Ainda agora lamento estas palavras. São reais, mas nunca as devia ter dito a uma mãe que ia lutar para aumentar a produção. E ela lutou! As últimas palavras que me disse na consulta foram: “Ainda lhe hei-de dizer que estou a amamentar em exclusivo!” Cerca de 4 meses volvidos recebi uma mensagem da T.: “Primeiro dia de aleitamento materno exclusivo”. Confesso que chorei de emoção e de felicidade por ela e pelo filho que tem a ventura de contar com uma mãe assim.
A M. já tem 10 meses de amamentação e diz na brincadeira que vai amamentar a menina até ela ter 18 anos. Conhecemo-nos através do email da amamentos, por um pedido de ajuda que ela nos fez. Estava com um abcesso, queriam “secar-lhe” o leite e ela estava desesperada achando que devia haver outra solução. E tinha razão. Essa situação foi ultrapassada. Mas outas mastites se seguiram, com as dores que todas sabemos causarem. Nunca a M. colocou a amamentação em questão, submetendo-se a todos os tratamentos e aceitando as nossas sugestões.
Quem sugere a colocação de mamilos de silicone na maternidade, quantas vezes ainda na sala de partos ou recobro, devia ouvir os gritos e o choro de frustração dos bebés quando se tenta voltar a coloca-los na mama nua. E devia também conhecer todo o sofrimento que estas mães têm aos sentirem-se rejeitadas pelo bebé. Oferecer mamilo de silicone para que um bebé extraia colostro é não ter noção de que está a criar um novo problema, resolvendo falsamente a ausência de pega do bebé à mama. Porque o bebé aceita o estímulo que lhe entra na boca e “finge” mamar, mas é impossível extrair um líquido que além de ser em pequena quantidade é naturalmente viscoso. Foi o que fizeram à A. e ao seu bebé. E ela veio até nós determinada a acabar com o uso do silicone. Diferentes tentativas, diferentes posições, acalmar o bebé frustrado, tudo ela suportou estoicamente, perguntando após cada falhanço: “E agora como fazemos?”. Acho que foi a fé dela em que tudo se havia de resolver, de que alguma solução teríamos para ela, que nos deu persistência e incentivo. E realmente o “milagre” deu-se: o bebé pegou na mama e mamou como se nunca tivesse feito de outra maneira. Ouvir aqueles goles enormes e ver o semblante da A., que não ousava mexer-se, para não estragar nada, foram compensação e alento para vários dias menos bons.
E a C.F., mulher admirável, que vive há mais de 2 meses com dor nos mamilos, apesar de já termos feito todas as tentativas para melhorar a situação.
A A. L. cheia de inseguranças, mas com a teimosia de quem sabe o que quer, aprendeu a fazer a pega mais correta, extraiu fora das mamadas e ofereceu com sonda, alegrou-se com os aumentos de peso, afligiu-se quando o número de horas que o bebé resolveu dormir foi maior, mas sempre persistiu e tem conseguido amamentar em exclusivo.
Mas nem sempre a amamentação em exclusivo é possível. No entanto, não tem que ser o tudo ou nada. Toda a quantidade de leite da mãe que o bebé ingere contém substâncias impossíveis de colocar numa lata. A J. é mais uma heroína. Amamentar e ter que dar outro leite, procurar o ponto de equilíbrio em que “não lhe vou dar tanto para que ele possa mamar o mais possível do meu”, mas ao mesmo tempo ter a garantia de que o bebé tem o aporte suficiente é extremamente difícil. E a maldita balança! Diz ela: “quando o peso, é como se estivesse a ser julgada por ser boa ou má mãe”. Quanta angústia estas palavras traduzem. Claro que ela é uma mãe maravilhosa, a Maior e a Melhor Mãe que o filho dela alguma vez sonhou ter, até porque o ama como nenhuma outra e cuida dele de forma exemplar.
Estas são algumas das muitas heroínas com quem diariamente nos cruzamos, mulheres corajosas que lutam em cada dia pelos seus filhos, aplicando os seus super poderes – abnegação, capacidade de sofrimento, teimosia, e sobretudo amor.